Uma questão de tempo

Em entrevista, secretário da Agricultura do RS, Clair Kuhn, fala sobre estratégias para a recuperação do agro gaúcho após a enchente ao mesmo tempo em que a previsão de estiagem na próxima safra preocupa.

O governo do Rio Grande do Sul está direcionando ações especiais ao setor agropecuário para evitar que as incertezas do clima atinjam muito severamente a produção rural. A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) implementou medidas visando a recuperação dos solos agricultáveis prejudicados pela enchente ao mesmo tempo em que visa minimizar os danos de uma possível estiagem prevista para os próximos meses. Assim, o incentivo à irrigação é um programa que recebe ênfase e têm foco em implantação e ampliação de sistemas e em construções de reservatórios de água. 

Esses e outros temas são explicados pelo secretário da Agricultura, Clair Kuhn, em entrevista ao blog Empreendedores do Campo. O titular da Seapi – que já foi presidente da Emater/RS e deputado estadual – fala sobre os novos desafios à frente da pasta, as implicações do fenômeno La Niña, explica detalhes sobre o programa de irrigação e conta quais as previsões de produção de próxima safra gaúcha.


Quais têm sido os principais desafios neste primeiro mês à frente da Seapi?

Clair Kuhn: Há muitos desafios para a agricultura nesse momento, principalmente após a catástrofe climática enfrentada pelo Rio Grande do Sul. Mas, sem dúvida, minha maior missão à frente da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) será a recuperação de solos após as enchentes, o fortalecimento da irrigação no Estado e a realização da 47ª Expointer. Precisamos dar ânimo aos produtores e buscar alternativas que ajudem os gaúchos a voltarem a produzir com a capacidade produtiva que tínhamos antes da enchente. Não é um trabalho simples, mas a Secretaria está atuando junto com diversas entidades dos setores para viabilizar políticas públicas que reflitam lá na ponta e atenda às necessidades dos nossos agricultores.

Depois da enchente, o predomínio do La Niña e de seus efeitos no clima apontam para a possibilidade de seca no Rio Grande do Sul. Quais ações o senhor aconselha para que a estiagem prevista afete minimamente a produção? O que está sendo implementado para prevenir impactos na produção rural gaúcha? 

Clair Kuhn: A Secretaria da Agricultura tem trabalhado, incessantemente, a pauta sobre a importância da reservação de água e a irrigação. Assunto que precisamos falar mesmo em períodos de chuva, tendo em vista as possibilidades de estiagem que enfrentaremos. Uma série de ações do governo do Estado estão dentro do programa “Supera Estiagem” e a Seapi oportunizou projetos de açudes, cisternas, poços e irrigação no Estado. São mais de 4,5 mil açudes espalhados em 433 municípios, 650 produtores rurais beneficiados com cisternas de 60 mil litros, 320 cidades que se inscreveram para a perfuração de um poço e 164 projetos de irrigação aprovados na primeira etapa do programa de irrigação, que destina subvenção de até R$ 15 mil por produtor. Um conjunto de políticas públicas que garantem mais água e mais produção. Sabendo que a irrigação é uma ferramenta crucial para a produção agrícola sustentável em todo o mundo, otimizando o uso da água, e um importante instrumento de gestão contra as incertezas do clima, que o governo do Estado lançou a segunda etapa do Programa de Irrigação, que prevê um ‘prêmio’ de até R$ 100 mil ao produtor que instalar os sistemas em sua propriedade. Com o programa, a expectativa é aumentar a área irrigada do Estado em cerca de 100 mil hectares, um incremento de 33% nas principais culturas de sequeiro.

Depois de tanta chuva, o processo de convencimento sobre a importância de investir em irrigação fica ainda mais difícil. Qual é o diagnóstico da irrigação no Estado neste momento? O que o senhor diria aos produtores que têm dúvidas sobre o tema?

Clair Kuhn: A irrigação torna a produção mais segura e eficiente. O objetivo é permitir que a lavoura se desenvolva plenamente, mesmo em condições adversas do clima. Além disso, com acesso à água da irrigação, os agricultores têm mais flexibilidade para escolher quais culturas plantar. E o governo do Estado lançou um dos programas mais arrojados da história, de fácil entendimento do produtor, que garante uma subvenção econômica de até 20% do valor do projeto de irrigação, limitado a R$ 100 mil por produtor.

O Programa de Irrigação do governo gaúcho será de grande valia como estratégia de enfrentamento às estiagens. Como ele funciona e quais as regras para o produtor ter acesso?

Clair Kuhn: O Estado custeará 20% do projeto de irrigação, limitado a R$ 100 mil por beneficiário. As regras para participação estão publicadas no edital, que pode ser conferido neste link: https://www.agricultura.rs.gov.br/supera-estiagem-editais

Os produtores rurais podem apresentar projetos até 30 de abril de 2025 que contemplem implantação ou ampliação de sistemas de irrigação (por aspersão, localizada ou por sulcos) ou construção, adequação ou ampliação de reservatórios de água para fins de irrigação. Os critérios de seleção incluem a análise e a aprovação do projeto; a situação regular do produtor rural no Cadin/RS; e a regularidade fiscal. Será observada a ordem cronológica da emissão de Declaração de Enquadramento, até o limite de disponibilidade orçamentária. O Estado pagará a subvenção ao produtor rural em parcela única, após a execução do projeto e o beneficiário deverá apresentar laudo de conclusão/execução, assinado pelo responsável técnico, e demais documentos comprobatórios.

Há uma série de requisitos para o acesso ao programa. Com quem os pequenos produtores rurais, como os de tabaco, devem contatar para acessar o programa? 

Clair Kuhn: Os projetos podem ser feitos pelos técnicos da Emater ou de qualquer empresa privada e podem ser financiados por instituições de crédito ou por recursos próprios.

Em 2024, com tantas adversidades climáticas, qual a previsão de produção da agricultura gaúcha?

Clair Kuhn: A produção de grãos, frutícolas e outras tiveram impacto com as enchentes, com perdas referentes às áreas que não puderam ser colhidas, ou que foram colhidas e tiveram baixo rendimento. Por outro lado, a colheita do arroz se encerrou com uma produção de 7.162.674,9 toneladas no Rio Grande do Sul, de acordo com dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), um desempenho similar ao registrado na safra passada. Para a safra de inverno de 2024, a Emater-RS/Ascar estima que o Rio Grande do Sul deve produzir 4.068.852 toneladas de trigo, o que representa um aumento de 55,27% em relação à safra frustrada de 2023.

Crédito foto: Joel Vargas/Ascom GVG