Reflexões de vida da atual mulher do campo

Boletins produzidos por jovens egressas do Instituto Crescer Legal abordam temas como questões de gênero, política, saúde, autocuidado e empreendedorismo.

Neste mês em que se comemora o Dia da Mulher, é pertinente pensarmos sobre quais as motivações, aspirações e desafios que movem as mulheres que moram no campo. Esse mundo feminino rural é assunto do ‘Nós por Elas – A voz feminina do campo’, iniciativa na qual meninas de localidades rurais produzem e gravam programas de rádio abordando temas variados. A cada ano, egressas do Programa de Aprendizagem Profissional Rural do Instituto Crescer Legal são convidadas a participar da formação, que é realizada em conjunto com o Curso de Comunicação da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).

Nessa ação, são abordadas questões de gênero no meio rural visando a conscientização sobre o papel das mulheres. Além disso, é promovida a capacitação das jovens com foco na área de comunicação, preparando-as para se tornarem multiplicadoras de reflexões e conhecimentos. As pesquisas e os aprendizados resultam em boletins de rádio, nos quais a voz de garotas do campo é ampliada por meio da divulgação em variados canais. Assim, representando a juventude e as mulheres rurais, elas levam as mensagens para a sociedade em geral.

Até o momento, o Nós por Elas já possibilitou a produção de 31 boletins sobre as mais variadas temáticas. A divulgação se deu na voz de 62 jovens em oito edições do Programa, que é realizado anualmente desde 2017. No ano de 2024, egressas de municípios do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, produziram boletins sobre quatro temas centrais: O que é feminismo?, Mãe solo, Saúde da mulher e Empreendedorismo rural para além das atividades agrícolas.

OUÇA OS BOLETINS.

Alguns temas dos boletins
O que é feminismo? – Esclarece que se trata de um movimento que defende a participação e respeito às mulheres, no sentido de que todos – homens e mulheres – tenham os mesmos direitos e as mesmas oportunidades. “Não é o oposto de machismo, mas sim a busca de uma sociedade igualitária e respeitosa com todos os cidadãos”, esclarecem as meninas. “Se hoje temos acesso à educação, direito ao voto, possibilidade de divórcio, leis de combate à violência contra a mulher, permissão para dirigir e até o simples número de CPF, foi devido à luta de feministas que nos antecederam”, diz o boletim. Ao lembrar que feminismo não defende a superioridade das mulheres nem a rejeição aos homens, as garotas propõem reflexões sobre a participação das mulheres na política e a atuação na condução das famílias, atividade muitas vezes invisibilizada.

Mãe solo – Os desafios e direitos das mulheres que exercem a maternidade com ausência do pai da criança foi mais um tema abordado. Trata-se de uma situação que não deve ser romantizada, pois, mesmo tratando-se de mulheres fortes e independentes, há sobrecarga, com desafios financeiros, físicos e emocionais. Somado a isso, as jovens rurais apontam problemas como a dificuldade na conquista e manutenção de empregos. “Mães solo precisam de empatia e rede de apoio e não de críticas”, enfatizam. Elas também aconselham que não se reproduza os conceitos naturalizados de que os cuidados com os filhos são papel unicamente feminino e abordam a importância de uma sociedade cuidadosa e consciente das responsabilidades da função paterna. Outra abordagem foi sobre a necessidade de creches e educação infantil no meio rural, como lugar seguro e educativo onde as mães possam deixar os filhos.

Saúde da mulher – A importância de não negligenciar a saúde física e mental foi mais uma questão abordada nos boletins do Nós por Elas de 2024. Com o questionamento “as mulheres do campo cuidam de todos, em quem cuida delas?”, foram abordados os principais cuidados em todas as fases da vida da mulher, começando pelas vacinas na infância e o acompanham ginecológico e da saúde emocional na adolescência. Na jornada adulta, os exames de rotina são fundamentais para manter a saúde e diagnosticar doenças precocemente, bem como o autocuidado. “A sobrecarga de atividades também afeta a saúde, compartilhar responsabilidades é uma forma de a mulher ter tempo para cuidar de si”, dizem as meninas. O boletim alerta também para os cuidados durante a gravidez e na menopausa. E no envelhecimento, o acompanhamento médico regular se torna ainda mais necessário, bem como saúde mental e alimentação adequada.

Empreendedorismo rural para além das atividades agrícolas – O crescimento de negócios diversos no campo possibilita diversificadas fontes de renda, além de trazer facilidades para os moradores do campo. Ao abordar o tema, as meninas do Nós por Elas sugerem empreendimentos direcionados ao turismo rural, pousadas, trilhas ecológicas e experiências autênticas no campo. “Empreender é desenvolver soluções a partir da identificação de problemas, gerando mudanças reais no cotidiano das pessoas”, explicam. Em pesquisa com moradores das suas localidades rurais, as jovens identificaram a carência de minimercados, oficinas mecânicas e serviços estéticos. Como cases, mostraram os casos de uma cabeleireira e de uma fotógrafa que obtiveram sucesso ao empreenderem no meio rural.

Em 2024
De agosto a novembro de 2024, na oitava edição do Nós por Elas, participaram meninas do Rio Grande do Sul – oriundas de Novo Cabrais, São Lourenço do Sul e Rio Pardo – e de Itaiópolis, Santa Catarina. Os encontros, realizados no formato online, permitiram que as participantes de diferentes regiões compartilhassem suas experiências e reflexões em torno dos desafios vividos pelas mulheres no meio rural. Com orientação da educadora Maria da Graça Vieira e de professores dos cursos de Comunicação da Unisc, 10 adolescentes produziram boletins de rádios. São elas:
– Angelina Kujavski, de Itaiópolis (SC)
– Cristine Rafaela Nörnberg Wolter, de São Lourenço do Sul (RS)
– Eduarda Moraes de Oliveira, de Rio Pardo (RS)
– Estephany Timm Treptow, de São Lourenço do Sul (RS)
– Jamile Rodrigues Ferreira, de Novo Cabrais (RS)
– Janaina Berwaldt, de São Lourenço do Sul (RS)
– Joice Vitória Rogalski, de Itaiópolis (SC)
– Júlia Cristine Dos Santos Bittencourt, de Rio Pardo (RS)
– Márcia Suzane Malczewski, de Itaiópolis (SC)
– Talita Alessandra Lopes, de Rio Pardo (RS).

Nona edição
Está prevista para o segundo semestre de 2025 a realização da 9ª edição do Nós por Elas. Poderão se inscrever egressas do Programa de Aprendizagem do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Diversas reflexões e temas atuais deverão resultar da ação. Os resultados estarão nos novos boletins que virão.