Quem são os jovens que irão transformar o campo

Por meio de ações do Instituto Crescer Legal, adolescentes filhos de produtores rurais inovam e abrem espaço para um novo agro da pequena propriedade.

Para a nova geração de jovens nascidos no campo, as luzes da cidade já não são mais tão atraentes. Isso porque perceberam que podem ter o melhor dos dois mundos: ambiente saudável e paz e, também, inovação, tecnologias e renda. Trata-se de uma realidade atualizada, onde a criatividade própria dos jovens impacta positivamente sobre as pequenas propriedades da região Sul do Brasil. Diversificadas, com gestão empreendedora e amparo tecnológico, as unidades produtivas familiares tornam-se ambientes sustentáveis com potencial de sucesso econômico e bem-estar para quem vive no meio rural.

Entre os fatores que contribuem para consolidar essas mudanças, está a ação do Instituto Crescer Legal, que completa 10 anos sendo citado em muitas histórias de vida transformadas. Por meio do seu inovador Programa de Aprendizagem Profissional Rural, adolescentes filhos de agricultores são contratados como aprendizes por indústrias de acordo com a Lei da Aprendizagem para fazerem o curso de Gestão Rural e Empreendedorismo sem sair das suas comunidades rurais. Assim, o Instituto oferece oportunidade de reflexão e construção de projetos de vida por meio da qualificação profissional com geração de renda.

É nos programas do Instituto e suas parcerias que os jovens com disposição em inovar encontram apoio para pensar, planejar e colocar projetos em prática, tornando-se protagonistas de suas histórias, inclusive com iniciativas que vão além e beneficiam suas famílias e comunidades. Ao chegar ao 10º aniversário, as pessoas e empresas comprometidas com o Instituto renovam o propósito de seguir com o olhar voltado para os adolescentes do campo e servindo como apoio na formação dos futuros empreendedores, que assumirão sua parte na condução do agro brasileiro.

Uma das jovens que optou pelo campo é Alice Jordana Alves, 26 anos, de Candelária/RS. Depois de 2 anos e 9 meses de experiência em um tabelionato de notas na cidade, ela resolveu sair do emprego para se dedicar exclusivamente às atividades da propriedade rural da sua família. “Eu achava que minha vocação era na área do Direito, mas ao trabalhar no cartório percebi que não é essa a minha aptidão”, conta. “Percebi que eu gosto mesmo é de estar no meio dos animais e das plantas. Literalmente, não me encontrei trabalhando na cidade”, explica.

Alice faz parte da História do Instituto Crescer Legal por ter recebido o certificado número 1 do Programa de Aprendizagem Profissional Rural, em 2017. A primeira formanda do curso de Gestão Rural e Empreendedorismo diz que ter sido aprendiz rural foi uma oportunidade importante, que lhe fez perceber possibilidades de progresso em atividades rurais. E após sua experimentação profissional na cidade, ela teve certeza de que seu lugar é no campo e está construindo novos planos, esses com os olhos voltados para inovações na propriedade familiar, onde já tem sua própria casa, construída recentemente no lugar onde sempre viveu e quer continuar.

 Conforme a jovem, os novos planos são de dedicação integral à produção rural e a ideia é, inicialmente, implantar lavouras. “Ainda vou sentar e conversar com meu pai para decidirmos exatamente o que vou fazer e qual caminho na propriedade vou seguir”, conta. “Meu pai planta tabaco e milho e têm seu empreendimento de transporte de tabaco para uma empresa de beneficiamento. E eu penso em fazer algo complementar, que venha a agregar ao que já temos”, acrescenta.

O produtor que é ator

Outro jovem produtor rural é Allan Aretz, 23 anos, de Vera Cruz/RS, que tem um compromisso anual do qual não abre mão: ser ator do Ciclo de Conscientização sobre Saúde e Segurança do Produtor e Proteção da Criança e Adolescente. São eventos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, nos quais ele sobe ao placo para viver um personagem muito parecido com quem ele é na vida real. Representa um rapaz do interior que busca conhecimento para ter sucesso a vida, levando a mensagem de que aprendizagem, inovação e boa gestão são fundamentais nas pequenas propriedades rurais. Ele começou sua jornada junto ao Ciclo quando foi jovem aprendiz do Programa de Aprendizagem de 2016/2017 e segue até hoje.

Allan conta que na adolescência tinha o sonho deser ator e viver da sua arte, mas, com o tempo, os planos de vida se voltaram para a diversificação da propriedade da família, que produz tabaco e morangos, além de produtos para subsistência. “As oportunidades foram aparecendo e eu fui amadurecendo. Quase dois anos após a formatura no Crescer Legal, veio a chance de participar de um prêmio em dinheiro para colocar em prática meu projeto final do curso, que era a construção de um a estufa para diversificar a produção”, relata. Assim, o incentivo financeiro recebido por meio do Programa Jovem Empreendedor Rural, da JTI, possibilitou ao jovem inovar com o cultivo de morangos e obter renda complementar à do tabaco.

Nos últimos anos, o jovem e sua família também inseriram tecnologias na produção de tabaco, entre as quais está a implantação de duas estufas elétricas, o que facilitou o trabalho, reduziu o consumo de lenha e permite economizar na contratação de mão de obra. “Já trabalhei um ano na cidade como empregado e então percebi que não é o que eu quero para minha vida”, explica. “Como vai passando o tempo, a gente vai abrindo mais a nossa mentalidade e percebendo que no interior se tem um futuro”, diz. “Tenho orgulho de ser produtor rural e também tenho orgulho de ser ator”, completa.

Empreendedora dos morangos

Mais um exemplo de jovem que reconhece as boas oportunidades do campo é Ana Paula da Silva Furtado, 20 anos, que tem sua própria estufa de morangos e tem investido com a família, inclusive na aquisição de uma propriedade de quase 11 hectares de terras no interior de Gramado Xavier/RS, onde vive com os pais e dois irmãos. Depois de ter sido aprendiz do curso oferecido pelo Crescer Legal em 2019 em Boqueirão do Leão/RS, seguiu buscando aprender mais e mais, inclusive participou do Programa Nós por Elas – A voz feminina do campo, também do Instituto. Atualmente, ela divide seu dia a dia entre a propriedade, o curso técnico Agrícola e a universidade, onde cursa licenciatura em Pedagogia. Os planos futuros incluem construir carreira no magistério e atuação na sua região.

Conforme Ana Paula,existem boas oportunidades no meio rural para as mulheres e a busca do seu lugar depende de cada uma. “Antes eu sonhava em sair do interior e viver na cidade, porém tive a oportunidade de perceber as chances de construir uma vida positiva no campo”, conta. “Ser aprendiz rural abriu a minha mente para o futuro e para a minha vida e foi a oportunidade para eu fazer o projeto para diversificar mais as atividades, com uso de tecnologias”, acrescenta. “A estufa é um sonho da nossa família, que hoje está concretizada, estamos conseguindo produzir muito bem e vender”, relata.

Na propriedade, além da estufa para produção de morangos, são cultivados 50 mil pés de tabaco, que é a principal renda. Também há frutas, hortaliças, animais e demais alimentos para consumo da família, que prima por alimentos orgânicos. Com uso de técnicas modernas de cultivo em estufas, os planos da família são de aumentar a produção de morangos de alta qualidade para fornecimento na região, pois a pesquisa de mercado indica essa possibilidade. “Hoje estou ajudando a minha família e estou muito feliz com tudo isso”, resume.

Mais de 1000

Neste ano em que o Instituto Crescer Legal comemora seu 10º aniversário, em 23 de abril, um dos motivos de celebração é a chegada o número de 1000 formados no Programa de Aprendizagem Profissional Rural nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Os participantes são contratados como jovens aprendizes pelas indústrias associadas e apoiadoras do Instituto Crescer Legal e recebem salário proporcional a 20 horas semanais, mas ao invés de trabalharem nas empresas, participam do curso de gestão rural e empreendedorismo no contraturno escolar, com atividades teóricas e práticas concomitantes conduzidas pelo Instituto em suas comunidades.

E, em 2025, são oito turmas, com 169 jovens que estão participando do curso em localidades rurais dos municípios gaúchos de Arroio do Padre, Gramado Xavier, Passa Sete (com duas turmas) e Vera Cruz, além de Canoinhas e Itaiópolis, em Santa Catarina, e São João do Triunfo, no Paraná. Além de cederem espaços para a realização do curso, as prefeituras também providenciam alimentação e logística de transporte diário.

O INSTITUTO – Iniciativa do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) e suas empresas associadas, o Instituto Crescer Legal foi fundado em 23 de abril de 2015. Com a validação do Ministério do Trabalho, construída por meio do engajamento ao Fórum Gaúcho de Aprendizagem Profissional e à Coordenação da Aprendizagem em cada estado, o inovador método do Programa de Aprendizagem Profissional Rural alia educação profissional e renda.

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