Produtor de tabaco: classe merecedora das homenagens do 28 de outubro

No dia 28 de outubro, celebra-se o Dia do Produtor de Tabaco, data instituída em 2013 pelas Assembleias Legislativas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Para falar sobre a importância dessa classe de produtores rurais, ninguém melhor que o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), que comenta também sobre os desafios da sua gestão à frente da entidade e as perspectivas e futuro da produção. Leia a entrevista concedida por Marcílio Laurindo Drescher ao blog Empreendedores do Campo:

 

Quais são os objetivos e os desafios da sua gestão na presidência da Afubra?

Marcílio Drescher: Os desafios continuam sendo todos aqueles pertinentes à fumicultura que a cada ano se apresentam e reapresentam, como as negociações de preço. E, neste ano, estamos finalizando os levantamentos dos coeficientes técnicos que são os parâmetros para o custo de produção. Esses cálculos são também feitos continuadamente com cada empresa integradora individualmente. Essas são tarefas muito importantes porque, a partir daí, tendo esses parâmetros do custo de produção, nós teremos um patamar para irmos para a mesa de negociações, que sempre é uma fase importante para o nosso produtor auferir uma tabela justa para o seu produto.

Temos, além disso, também o objetivo de trabalhar cada vez mais em parceria com sindicatos, tanto de trabalhadores rurais familiares, como os demais sindicatos rurais que representam associados que são simultaneamente também associados da Afubra. Já iniciamos rodadas de reuniões com as entidades localizadas nas regiões onde se concentra a produção de tabaco para esclarecer informações sobre diversos temas e, quando houver assuntos pertinentes, os sindicatos já estejam em condições de responder e possam nos ajudar a resolver os problemas dos fumicultores nos seus respectivos municípios. Essa é uma nova atividade e um desafio que estamos implementando. Além disso, estamos fazendo outras reuniões com fumicultores em diversos lugares onde se concentra a produção. Os casais de produtores são convidados para reuniões tipo seminários, onde se falará sobre o histórico da Afubra, seus objetivos e suas principais atividades.

 

No dia 28 de outubro será comemorado o Dia do Produtor de Tabaco. Qual a importância da data?

 Marcílio Drescher: Desde que foi criada a lei estabelecendo o Dia do Produtor de Tabaco aqui no Rio Grande do Sul, e depois também com leis criadas em Santa Catarina e no Paraná, a data visa celebrar essa importante classe. Também celebra essa importante produção, bem representativa na sociedade e para as famílias de milhares de produtores que tiram do tabaco um dos principais sustentos econômicos para sua sobrevivência no meio rural. Esse reconhecimento é de fundamental importância porque o fumicultor, que muitas vezes é visto como um produtor de produto do mal, na verdade está fazendo o bem para sua família e para a própria sociedade. Ele ajuda a arrecadar tributos e implementar divisas nos municípios e nas comunidades. Então, é o merecido reconhecimento que se dá ao produtor nesse dia.

 

A diversificação das propriedades é um dos itens discutidos nas Conferências das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco. A Afubra, assim como a indústria, incentiva a diversificação das propriedades há muitas décadas. Como avalia a não-participação da entidade nas discussões sobre o tema no âmbito da COP?

Marcílio Drescher: Continuo insistindo que é uma grande falha. É uma incoerência não podermos, pelo menos, estarmos lá para ouvir o quer é discutido e nem acompanhar de perto as propostas que o Brasil levará para a próxima COP, no Panamá, em novembro. Nós temos a certeza de que, muitas vezes, essas organizações não conhecem ou fazem questão de não reconhecer o trabalho de diversificação que os fumicultores fazem incentivados e orientados pelas suas entidades e pelas empresas integradoras. Inclusive, porque grande parte da renda da propriedade dos fumicultores vem da diversificação por meio da produção animal ou vegetal. Essa comprovação nós temos e já levamos para vários ministérios em Brasília. No passado tivemos situações diferentes, mas que hoje não servem como argumentos de que não tem diversificação porque ela existe e, em grande parte das propriedades, a renda de outras culturas às vezes já supera a renda do próprio tabaco.

 

Recentemente, o governo federal, por meio do INCA, sugeriu que o produtor substituísse a produção de tabaco por alimentos. Qual a posição da Afubra sobre a campanha?

Marcílio Drescher: Nós entendemos que isso é uma grande afronta, uma grande ofensa ao produtor, mostrando exatamente esse desconhecimento sobre a diversificação. A verdade é que os produtores plantam muito alimento. Por outro lado, se não é desconhecimento, é má fé mesmo, pois os produtores de pequenas propriedade ou aqueles sem terras, se não tivessem o tabaco na sua propriedade para ter uma renda melhor, jamais resistiriam com a produção somente de alimentos porque esse mercado não lhe dá segurança, garantia e, muitas vezes, nem preço condizente.

 

Por que o senhor acredita que os produtores seguem plantando tabaco, mesmo diante das ofensivas em torno do produto?

Marcílio Drescher: O produtor olha o que para ele é mais importante e necessário, que é ter uma renda e sobrevivência digna, bem-estar e qualidade de vida para poder continuar no meio rural. Por essa razão, se nós perguntarmos para o produtor ele dará esta resposta: “porque eu tenho pouca terra e, por consequência, não tenho como produzir outras culturas que me dão renda similar ou igual à do tabaco, e seu eu consigo plantar outra cultura, muitas vezes o mercado não me oferece a segurança de poder vender e ganhar meu dinheiro”.

 

Como o senhor percebe o momento presente e o futuro da produção de tabaco?

Marcílio Drescher: Nós dependemos muito do mercado internacional, pois o produto é exportado para mais de 100 países. Temos certeza de que teremos um mercado de vida longa por muitos e muitos anos se continuarmos prezando pela produção de qualidade. Equalizando um pouco a questão da quantidade desse mercado, nós não podemos aumentar muito o custo do nosso tabaco para não cairmos na mesma ordem de outros países que praticamente sucumbiram porque o custo elevou-se demais e o produto não tem competitividade nos países consumidores. Se aumentarmos o custo, outros países que conseguem produzir com preços menores entram nesse mercado e ocupam nosso espaço e, por consequência, nós teremos que diminuir. Por esse fato, temos que ter equilíbrio no custo de produção para podermos competir com aqueles países que hoje são nossos concorrentes.