O produtor de tabaco tem rendimento bem superior ao da média dos trabalhadores brasileiros. Como consequência, vem a melhor qualidade de vida e o alto nível de satisfação com a sua atividade. Esses aspectos foram atestados na pesquisa Perfil socioeconômico do produtor de tabaco da Região Sul do Brasil, realizada no segundo semestre de 2023 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por meio do Centro de Estudos e Pesquisas em Administração (CEPA/Ufrgs).
Os dados confirmaram o que havia sido verificado na primeira edição da pesquisa, realizada em 2016, que já apontava para o bom nível socioeconômico do produtor de tabaco. O estudo constou de entrevistas presenciais por amostragem com produtores de 37 municípios da Região Sul do Brasil. O coordenador da pesquisa, professor doutor Luiz Antonio Slongo, revela, em entrevista ao blog Empreendedores do Campo, as suas impressões ao analisar os resultados das entrevistas com os produtores.
Conforme ele, foi verificado um bom acesso a itens de conforto doméstico, bem como a itens relacionados às condições de higiene e saúde, cenário facilitado pelo bom nível de renda familiar. Isso porque os produtores de tabaco da Região Sul do Brasil atingem uma renda mensal média per capita de R$ 3.540,75, enquanto a renda per capita no Brasil é de R$ 1.625,00 (IBGE, 2022). Esse e outros temas são abordados na entrevista com o doutor Slongo. Leia:
Na pesquisa Perfil socioeconômico do produtor de tabaco da Região Sul do Brasil, quais os principais aspectos que lhe chamaram a atenção?
Luiz Antonio Slongo: O que mais chama a atenção é a renda que os produtores de tabaco da Região Sul do Brasil conseguem extrair de uma pequena propriedade rural. A pesquisa mostra que, na média, essas propriedades são de pouco mais de 17 hectares, sendo que somente 3,38 ha são cultivadas com tabaco, ou seja, cerca de 19% da área total. O senso comum leva, em geral, a se associar pequenos produtores rurais com renda baixa e baixo padrão de vida, o que, decididamente, não é o caso dos produtores de tabaco da Região Sul.
Os dados mostraram que, na comparação com a média do trabalhador brasileiro, a condição socioeconômica do produto de tabaco é bem superior. Com isso, o senhor acha possível que esses produtores acatem sugestões de substituição de cultura?
Luiz Antonio Slongo: É difícil admitir que os produtores de tabaco da Região Sul, dadas as atuais circunstâncias em que trabalham e vivem, possam substituir a produção de tabaco por outra cultura ou atividade agropastoril. Para culturas agrícolas de commodities, como soja, arroz, ou milho, as propriedades seriam muito pequenas. Para outras atividades, como produção de aves, suínos, leite, verduras ou frutas, a substituição ao tabaco envolveria elevado risco, o qual, provavelmente, o produtor não estaria disposto a assumir. A produção de tabaco é mais sólida e segura para ele, principalmente considerando-se o sistema integrado, já há muito tempo consolidado, do qual ele participa e confia. Importante destacar que, mesmo assim, os produtores de tabaco produzem outros bens de origem agrícola e animal, os quais são destinados à sua subsistência e, em alguns casos, também para comercialização, mas sempre como atividade secundária ao tabaco.
Na autoavaliação, a maior parte dos produtores se mostrou satisfeita com sua condição de vida. Na sua percepção, quais os principais motivos que levam a essa satisfação?
Luiz Antonio Slongo: A satisfação demonstrada pela maioria dos produtores de tabaco é, principalmente, decorrente da sua condição de vida, a qual é caracterizada por uma boa renda, que lhe dá condições de viver com um bom padrão de vida. Esses produtores sabem que tal padrão de vida eles dificilmente conseguiriam em outra atividade. Associe-se a isso, o fato da maioria desses produtores terem suas origens no campo e gostarem de viver nele. Para muitos ainda, o cultivo do tabaco vem de uma tradição familiar. Eis, portanto, uma boa explicação para a satisfação verificada na pesquisa.
Em relação à primeira pesquisa, de 2016, percebeu-se avanços relacionados ao uso de tecnologias nas propriedades. Na sua opinião, isso é um fator que aumenta a qualidade de vida de quem vive e trabalha no meio rural? Por quê?
Luiz Antonio Slongo: O acesso à energia – inicialmente elétrica e hoje com outras boas alternativas – fornece a base aos produtores de tabaco para que eles tenham acesso a bens de conforto doméstico e de entretenimento, paritários aos das populações urbanas. Combinando-se isso com a boa renda, a evolução tecnológica é facilmente incorporada à rotina desses produtores, o que os coloca em igualdade de condições daqueles que gozam de um bom padrão de vida nas cidades. Isso mitiga eventuais intenções de sair área rural. Outro ponto que parece contribuir para a fixação desses produtores, é a convicção de que a vida na zona rural é mais saudável do que na cidade.