Quando José Luiz Tejon Megido fala sobre agronegócios, marketing, inovação, liderança e motivação, todos sabem que vale a pena ouvir. Com uma carreira construída em estudos e pesquisas que resultaram em mais de 30 livros escritos e mais de 600 mil exemplares vendidos, além de palestras para mais de 3 mil empresas em diversos países, ele é uma autoridade mundial do agro.
Em um painel ocorrido na 46ª Expointer, Tejon disse que o Sistema Integrado de Produção de Tabaco deveria servir de modelo para outras cadeias produtivas. “A organização da cadeia do tabaco é uma das mais extraordinárias que eu conheço no mundo”, falou. Para o setor, é um importante reconhecimento, por isso o Blog Empreendedores do Campo buscou saber mais sobre o que ele pensa a respeito do tabaco. E ao final da entrevista, uma mensagem especial direcionada aos homens e mulheres do campo. Confira!
Como uma autoridade mundial na área do agronegócio, o senhor conhece os mais diversos arranjos produtivos e atribui ao setor do tabaco no Brasil o título de um dos modelos mais organizados. Quais as vantagens que o senhor percebe no sistema integrado de produção de tabaco?
José Tejon: Atribuo essa virtude ao setor de tabaco por conhecê-lo pessoalmente desde 1977 quando, pela primeira vez, estive em Santa Cruz do Sul. Trabalhava na Jacto e desenvolvemos aquele costal com dosador. Observei desde aqueles tempos que a cadeia produtiva do tabaco tinha uma efetiva preocupação no desenvolvimento dos seus integrados. Se preocupava desde aqueles tempos com meio ambiente, qualidade de vida e já estimulava fortemente os produtores de fumo à diversificação. Depois da Jacto fui para a Agroceres e continuei meus vínculos com o setor. Realizamos ótimos trabalhos promovendo o fomento do milho. Vi no arranjo produtivo da fumicultura, e vejo, uma preocupação verdadeira na preservação das famílias agrícolas. E tenho dito que, se o setor do tabaco pode fazer isso, todos os demais deveriam e poderiam buscar inspirações e gestão para fazer o mesmo, desde o A do abacate ao Z do zebu. Vocês são um exemplo de integração com responsabilidade social.
O setor do tabaco no Brasil enfrenta diversas ameaças que podem afetar a produção no campo (legislação, impostos, exclusão de incentivos rurais) e os negócios (contrabando, restrições, campanhas antitabagistas). Mesmo assim, segue sendo exemplo de excelência em gestão e de cuidados com o meio ambiente e com as pessoas. O que destacaria sobre essa cadeia produtiva no Brasil?
José Tejon: Destaco exatamente essa “contradição”. O setor mais visado dentre todas as cadeias produtivas é o que mais zela pelos fundamentos ESG. As questões envolvendo o hábito do fumo têm sido alvo de severas sanções. Incluindo a proibição da propaganda. As embalagens com fotos fortes. Campanhas antitabagistas e o que observamos é que, no aumento dos impostos, eles terminam por incentivar o contrabando e o consumo de um tabaco produzido totalmente fora das exigências das leis e dos modelos ESG do setor brasileiro. Mas o que admiro e reitero para todos é que talvez até por ser o setor mais vigiado, e alvo desses aspectos, é ao mesmo tempo aquele que consegue contratar milhares de pequenas propriedades, estimular sua performance, fazer com que produzam pelo menos 50% de outros alimentos, além de programas sociais de sucessão, e o setor fica incomodado e não gosta de perder uma família agrícola integrada. De novo, vocês são um caso espetacular de organização da cadeia produtiva, dos vínculos com as tecnologias do antes das porteiras e com um serviço técnico e gerencial que cuida um a um de cada integrado. De novo, todas as demais cadeias produtivas do agro deveriam estudar sem preconceitos essa competência de gestão rural.
O Instituto Crescer Legal é uma iniciativa do setor do tabaco que tem como objetivo combater o trabalho infantil ao mesmo tempo em que gera oportunidade de renda, aprendizagem e qualificação profissional para os jovens rurais. O senhor considera que a educação, o desenvolvimento tecnológico e o empreendedorismo podem ser ferramentas agregadoras para a agricultura familiar? Como vê o futuro dos pequenos produtores rurais nesse cenário?
José Tejon: “Small is beautifull” frase que está muito atual. Consumidores querem consumir produtos feitos no local, e onde apareça o amor das famílias agrícolas. A sucessão para os novos tempos da produção agropecuária será cada vez mais tecnológica, digital. E cada unidade agrícola será vista como um ponto crucial de saúde. Saúde no sentido do solo, plantas, água, ambiente e suas pessoas. O Crescer Legal objetiva já criar uma percepção positiva para as carreiras, e o empreendedorismo desse novo mundo “agribiocitizenship” um universo da cidadania. E nesse sistema agrobio, agroconsciente, tudo o que estaremos vivendo em 2050 já está em transição e vai ocorrer até 2030. A juventude tem nos campos, águas e mares do mundo, um potencial imenso para gerar riqueza, combater a pobreza, fome e miséria e tudo isso com sustentabilidade. Precisamos manter e crescer as propriedades pequenas das famílias agrícolas elas formam hoje um desejo veemente dos consumidores conscientes.
O sucesso do agro também depende de reputação. O que falta para o setor primário brasileiro ser reconhecido pela importância que realmente tem?
José Tejon: Nos falta a inteligência da boa palavra. O poder da comunicação na luta pelas percepções (fight for perceptions). As forças entrópicas x as sintrópicas fazem parte do show da vida no universo. Se permitimos que as palavras ruins dominem as boas, não ganharemos essa guerra a favor da criação. O que está errado, fora da lei, e sob análise séria da ciência precisa ser sim combatido. Porém o que está certo, bem feito, dentro da lei e sob análise séria da ciência precisa ser extremamente promovido. No Brasil temos a melhor agricultura regenerativa do mundo. Um estudo recente da Serasa Experian avaliando 163 mil agricultores que pediram crédito na última safra sobre o score ESG deles mostrou que 99% deles estão ok dentro das conformidades exigidas.
Qual conselho ou mensagem o senhor daria para os nossos Empreendedores do Campo?
José Tejon: Temos no corpo humano cerca de 98% de bactérias benignas. E 2% das malignas. E a pergunta é essa, quando o mal se instala? É quando os 98% permitem ser dominados pelos 2%. Meu conselho aos empreendedores do campo é compreenderem que eles são as peças mais fundamentais do novo agronegócio, pois doravante a originação fala mais alto na percepção de toda agroindustrialização, comércio e serviço. E precisam criar um sistema de comunicação permanente e de longo prazo onde sempre a voz dos que fazem bem feito esteja presente nos corações e mentes da sociedade cliente. E jamais retaliar por retaliar qualquer colocação que generalize a categoria indevidamente. Ao retaliar só aumentamos o prazer do detrator.
Famílias agrícolas são o símbolo mais querido em todas as sociedades mundiais e no Brasil também. E numa pesquisa que realizei para a Abag, apresentada num congresso brasileiro do agronegócio, sobre as cinco atividades que a população urbana brasileira mais entendia como vital para suas vidas, essas atividades são: médico, bombeiro, professor, policial e agricultor. E também dar cada vez mais protagonismo as mulheres, que representam a aceleração da inovação e o símbolo do amor na produção. Parabéns famílias agrícolas brasileiras e parabéns sistema de integração da indústria do tabaco do Brasil.