É da terra que saem os alimentos para a humanidade. Por sua importância, há um Dia Nacional da Conservação do Solo, celebrado em 15 de abril, data escolhida em homenagem ao nascimento do americano Hugh Hammond Bennett, considerado o pai da conservação do solo. Atualmente, sabe-se que através do planejamento e aplicação correta de boas práticas, é possível manter o potencial produtivo da terra e evitar problemas como a erosão e a compactação.
Neste Dia Nacional de Conservação do Solo, o Blog Empreendedores do Campo entrevistou a engenheira agrônoma Fernanda Viana Bender, que também possui mestrado em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Com 20 anos de atuação na cultura do tabaco, ela conta que, além de beneficiar o meio ambiente, o bom uso do solo significa melhor aproveitamento dos nutrientes. Fernanda revela também que, entre os produtores de tabaco, 74% usam práticas conservacionistas em suas lavouras. Leia a entrevista:
O que é um solo bem cuidado?
O solo bem cuidado é aquele que é produtivo, que tem vida, que consegue trazer o sustento para as famílias que ali produzem, pois está conservado.
De que forma a conservação do solo e a produção agrícola podem andar juntas?
A conservação do solo está diretamente ligada à produção agrícola, quanto mais conservado e protegido estiver o solo, maior a chance da cultura ali produzida alcançar o seu potencial produtivo. Por isso, é indispensável a adoção de boas práticas agrícolas para conservar melhor o solo.
A pesquisa do SindiTabaco junto às empresas associadas aponta que, entre os produtores de tabaco, 74% aplicaram técnicas conservacionistas no preparo do solo em 2022. Esse índice é considerado bom? Como é a situação de outras culturas?
Esse número é muito bom e as empresas associadas têm trabalhado para ser ainda melhor. A partir de 2020 já conseguimos atingir o patamar acima de 70% na adoção de práticas conservacionistas, que consiste principalmente no plantio do tabaco em camalhão sobre a palhada de uma planta de cobertura, como aveia, centeio, braquiária, capim sudão, dentre outras culturas de inverno e verão. Há um pouco mais de 10 anos, esse número era inverso, quando cerca de 70% dos produtores faziam o cultivo convencional, com o solo desprotegido sem o plantio na palhada. Para os grãos, por exemplo, os benefícios da prática conservacionista do plantio direto já são bastante difundidos e implementados por grande parte dos produtores, apesar de não ser adotado na sua totalidade.
Quais incentivos do setor do tabaco contribuíram para que os produtores migrassem do cultivo convencional para o conservacionista?
Muitas empresas investiram em pesquisas que trouxeram resultados positivos quando o cultivo conservacionista foi implementado, sendo destacados a melhoria da produtividade, melhor controle de plantas daninhas e menor incidência de doenças radiculares. Além desses resultados que “se vê”, ainda há aqueles que não conseguimos mensurar visualmente, como melhoria da saúde do solo – cujos microrganismos benéficos promovem a ciclagem de nutrientes; preservação e melhoria da estrutura do solo – raízes das plantas de cobertura permeiam por diferentes profundidades, evitando a compactação em camadas mais profundas do solo; maior capacidade de armazenamento de água em profundidade. Um estudo da Embrapa mostra que a prática de cultivo em camalhões com palha previne a erosão hídrica, ou seja, evita que o solo da superfície seja perdido durante as chuvas.
De que outras formas é possível cuidar do solo?
Proteger e conservar o solo deve ser visto como investimento pelo produtor e não como gasto. O manejo adequado do solo é o pontapé inicial para uma boa safra e práticas como a correção do pH do solo com o calcário, descompactação quando necessária, preparo dos camalhões e semeadura das plantas de cobertura tornam-se primordiais no cuidado desse solo. Essas práticas auxiliarão as plantas a se estabelecerem melhor na lavoura a enfrentarem condições climáticas adversas, havendo melhor aproveitamento dos nutrientes, e o solo ficará mais protegido quanto a perdas superficiais e também diminui a pressão de plantas daninhas.