Confira a entrevista concedida pelo engenheiro agrônomo José Otávio Machado Menten à SindiTabacoNews sobre o tema agrotóxicos. Mestre em Fitopatologia, doutor em Agronomia e com pós-doutorados em Resistência e Epidemiologia (Holanda), Patologia de Sementes (Dinamarca) e Biotecnologia (Cambridge, Inglaterra), Menten é presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS).
Quais são os principais mitos em torno do tema agrotóxicos no Brasil?
Um deles é que o Brasil é o maior consumidor de produtos fitossanitários do mundo. Isso não é verdade, principalmente porque a maneira de se expressar o consumo não é, de forma alguma, a quantidade dividida pelo número da população, e sim a quantidade de ingrediente ativo por unidade de área ou por unidade de produtos colhidos. Outro mito é que aqui no Brasil são utilizado produtos fitossanitários que estão banidos em outros países, principalmente na Europa. O que ocorre é que culturas como a soja e a cana-de-açúcar são típicas do Brasil, têm pragas diferentes e, então, aqui há a necessidade de produtos que em outros lugares não são necessários. Da mesma forma, existem alguns produtos que são utilizados na Europa e não são aqui, como os de controle de pragas de oliveiras e de cereais de inverno. Um outro mito é o de que nossos alimentos contém resíduos de produtos fitossanitários. Os monitoramentos feitos têm mostrado que os nossos alimentos estão dentro do padrão internacional, tanto que os alimentos produzidos aqui no Brasil, além de atenderem a necessidade da população brasileira, são exportados para mais de 150 países que fazem o monitoramento e aceitam muito bem o produto do Brasil.
Qual é a posição do Brasil no ranking de utilização de agrotóxicos em relação a outros países?
Dependendo do indicador, essa classificação do Brasil no ranking do consumo de produtos pode variar. Uma das maneiras corretas de se indicar esse consumo é a quantidade de ingrediente ativo por hectare. E existem avaliações internacionais que mostram que o Brasil é o 44° país em termos de consumo. Nós devemos lembrar que nossa agricultura é feita em um país tropical e em regiões tropicais a quantidade e severidade de pragas é muito maior, exigindo um manejo mais intenso, incluindo o uso dos produtos fitossanitários. Mesmo nessas condições, nós utilizamos muito menos defensivos do que diversos países que têm controle ambiental e toxicológico muito forte, como é o caso do Japão, Holanda e outros países europeus.
Qual é a quantidade média de agrotóxicos usada por hectare no Brasil? Esse é um número considerado racional e eficiente?
Se considerarmos apenas a área cultivada com grãos, frutíferas e hortaliças, a quantidade é em torno de 4 quilos de ingrediente ativo por hectare. Se incluirmos, além dessas culturas, também a área com pastagens, esse número cai a 1,5 quilos por hectare. Trata-se de uma quantidade racional, que está em níveis semelhantes aos de diversos países da América Latina e da Ásia, que são regiões tropicais. Ou seja, o agricultor brasileiro usa a quantidade necessária para proteger os seus cultivos das pragas e esses produtos só são utilizados quando outras medidas de manejo – como cultivares resistentes, práticas culturais adequadas e controle biológico – não são suficientes para manter o nível populacional das pragas abaixo do nível de dano econômico.
Uma pesquisa da Esalq/USP mostrou que o tabaco é a cultura comercial que menos utiliza agrotóxicos no Brasil. Como o senhor avalia o dado em comparação com outros produtos agrícolas?
Os agricultores só utilizam os produtos fitossanitários quando realmente é necessário. O desenvolvimento de cultivares, por exemplo, de algodão, proporciona a ocorrência de um número relativamente grande de pragas e isso faz com que a cultura do algodão seja uma das que têm maior utilização de defensivos agrícolas. Por outro lado, na cana-de-açúcar a quantidade utilizada é bem mais baixa, praticamente apenas herbicidas, porque as doenças são controladas pela disponibilidade de variedades resistentes a fungos, bactérias e vírus e os insetos são controlados pela ação dos inimigos naturais e dos defensivos biológicos. A cultura do tabaco, por suas características, leva a necessidade de aplicação muito baixa de produtos fitossanitários, algo em torno de 1 quilo de ingrediente ativo por hectare. E isso pode ser observado na análise do custo de produção da cultura, pois a quantidade de defensivos é uma das mais baixas entre as espécies cultivadas no Brasil. Com isso, percebe-se que, no tabaco, as outras medidas de manejo – incluindo os métodos genéticos, culturais, físicos e biológicos – funcionam muito bem, de maneira eficiente, fazendo com que a utilização do método químico de controle, tenha uma intensidade muito mais baixa do que em outras culturas.