Nos últimos tempos tem havido uma enorme campanha nos meios de comunicação, culpando os agricultores pelo uso de produtos fitossanitários em suas culturas. Cunharam o termo Agrotóxicos para chamar mais a atenção do público leigo.
Acontece que todos os seres vivos, animais ou vegetais, padecem com doenças e ataques de predadores. Se fosse possível praticar agricultura sem o uso de produtos químicos, com certeza o agricultor não gastaria para adquirir esses produtos.
É muito fácil produzir sem uso de produtos químicos em pequenas hortas de fundo de quintal, porém a grande agricultura, aquela que realmente mata a fome da população, não pode produzir sem a contribuição desses produtos.
Convencionou-se chamar de “remédios” os produtos químicos utilizados para controlar os males de animais (humanos entre eles), porém não se adota o termo “remédio” para os produtos químicos de uso fitossanitário. É necessário que haja coerência.
Se os produtos de uso em vegetais são denominados agrotóxicos, os de uso veterinário deveriam então ser zootóxicos e os de uso humano antropotóxicos. Vejamos alguns exemplos de produtos utilizados:
INGREDIENTE ATIVO | MARCA | CLASSE | INDICAÇÃO |
Deltametrina | Decis | Inseticida | Uso agrícola |
K-othrine | Uso veterinário | ||
Escabin | Uso humano | ||
Fluconazol | Triazol | Fungicida | Uso agrícola |
Uso humano | |||
Uso veterinário | |||
Óleo mineral | Nujol | Laxante | Uso humano |
Oppa | Fungicida, adjuvante | Uso agrícola | |
União Química | Laxante | Uso veterinário | |
Ivermectina | Ivomec | Inseticida, acaricida | Uso veterinário |
Iverneo | Inseticida, acaricida, vermicida | Uso humano |
Como se pode verificar, os “venenos” são usados tanto ara controle de insetos, vermes, fungos, etc. tanto em humanos quanto para animais e vegetais. É importante lembrar também que todos os inseticidas utilizados em saúde pública para controle dos mosquitos transmissores da dengue, febre amarela e malária, contêm os mesmos princípios ativos dos que são utilizados na agricultura, porém não são registrados para uso agrícola.
Sendo assim – e lembrando que historicamente os principais causadores de intoxicação no Brasil são os chamados “remédios” para uso humano – não se justifica que os agricultores sejam os “vilões” nessa história.
Engenheiro agrônomo e de Segurança do Trabalho, é também agricultor e consultor e membro do Conselho Científico Agro Sustentável. Formado em Engenharia Agronômica pela Faculdade de Agronomia de Pinhal e de Segurança do Trabalho pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas, tem especialização em Segurança do Trabalho Rural (Japão, 1984); Formulação de Pesticidas, com enfoque para Segurança no uso de Pesticidas (Leipzig, Alemanha, 1988) e fez diversos cursos pelo mundo sobre segurança no uso de produtos químicos para a agricultura. Ex-professor da PUCC (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) e professor no curso de Engenharia de Segurança da UNICAMP.