Em entrevista, Valmor Thesing faz avaliação sobre o ano de 2024 e fala sobre os planos e oportunidades futuras.
Presidente do SindiTabaco desde outubro de 2024, Valmor Thesing é uma personalidade do setor que alia a visão estratégica de oportunidades de negócios com ações ligadas a questões sociais e ambientais. Priorizando a sustentabilidade da cadeia produtiva por meio de uma união forte entre todos os elos que compõem o setor, ele tem dado atenção especial ao fortalecimento do Sistema Integrado de Produção de Tabaco (SIPT) para a manutenção da liderança do Brasil no mercado mundial de tabaco. Em entrevista ao Blog Empreendedores do Campo, Thesing faz uma avaliação do ano de 2024, os principais desafios que afetam o setor e aponta as perspectivas para o futuro. Leia:
Na sua percepção, como foi o ano de 2024 para o setor do tabaco?
Valmor Thesing: Um dos desafios de 2024 foi o desastre climático de maio, que abateu todo o Rio Grande do Sul. Nossas associadas estiveram presentes e ajudaram seus empregados e os produtores atingidos. Para o setor tabaco, a enchente não teve um impacto tão grande porque naquele momento toda a produção no campo estava colhida, comercializada junto aos produtores e em processamento nas indústrias. Não em volume, mas tivemos problemas dentro das fábricas, que interromperam as atividades por mais de uma semana. Não havia água, combustível e outros insumos, mas todas as empresas fizeram seus planos de ação e as operações foram retomadas conforme as possibilidades.
Outra questão de 2024 foi a 10ª Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, que aconteceu em fevereiro, no Panamá. Mais uma vez a representação do Brasil, em vez de ser protagonista na defesa do setor, levou sugestão de medidas em prejuízo da cadeia produtiva do tabaco. Lembremos que o Brasil, quando ratificou a Convenção-Quadro, fez uma declaração interpretativa dizendo que não seriam tomadas medidas contra os produtores. A representação também apoiou sugestões nas questões ambientais, quando sabemos que o setor no Brasil é destaque em sustentabilidade. Nós, unidos a entidades como Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil), Abifumo (Associação Brasileira da Indústria do Fumo), Amprotabaco (Associação dos Municípios Produtores de Tabaco) e representantes dos poderes legislativos e Ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura, conseguimos minimizar danos maiores e saímos de mais uma COP sem grandes prejuízos à cadeia produtiva.
Destacando o Sistema Integrado de Produção de Tabaco (SIPT), que é tão importante para a nossa região, criamos três Grupos de Trabalho (GTs) juntamente com as sete representações dos produtores e estamos construindo um plano para dar continuidade ao fortalecimento da integração. Precisamos fortalecer o SIPT em função dos desafios que o setor tem, sabemos que os ataques vão continuar, as COPs vão continuar existindo e temos um governo que não nos apoia. Queremos sensibilizar a sociedade para a importância do setor, então precisamos fortalecer mais e mais o Sistema Integrado com seus programas e com comunicação visando a defesa do setor. É importante mantermos a cadeia produtiva ativa e fortalecida para que o Brasil siga sendo o maior exportador de tabaco.
Nesse cenário, quais os principais desafios e perspectivas para 2025?
Valmor Thesing: Mantemos um trabalho contínuo entre o SindiTabaco, Abifumo, representação dos produtores e políticos que nos apoiam no acompanhamento das agendas, por exemplo, de COP e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Temos movimentos em curso, na Câmara Federal, em Brasília, e também junto à Subcomissão criada na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, que tem feito audiências nas quais se busca mostrar a importância da cadeia produtiva para o Brasil. Queremos sensibilizar o governo para que mude o tom ideológico e observe as evidências científicas e os dados sociais e econômicos. Isso é um trabalho contínuo que não pode parar, seja para mantermos o setor ativo, como para buscar novas oportunidades, como a produção de nicotina líquida. Outros desafios são questões tributárias, o combate ao mercado ilícito e a 11ª edição da Conferência das Partes, que ocorrerá em novembro. Nosso setor tem feito sua parte com excelência e estamos empenhados em dialogar com a representação do governo brasileiro, especialmente diante das discussões que impactam diretamente nossa atividade. Como entidade representativa das indústrias, seguimos firmes com nossos programas que promovem a sustentabilidade econômica, social, ambiental e de inovação. Essas iniciativas beneficiam todos os envolvidos na cadeia produtiva e asseguram competitividade, atendendo às demandas do mercado internacional por práticas alinhadas aos critérios de ESG (Environmental, Social, and Governance).
Quais os benefícios que a regulamentação dos Dispositivos Eletrônicos de Fumar trará?
Valmor Thesing: Valmor Thesing: Nas ruas, se percebe que os DEFs estão liberados, com produtos oriundos do mercado ilegal circulando normalmente. O que estamos pedindo é a regulamentação. Dezenas de países já regulamentaram, na maioria países desenvolvidos, como Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e França. Temos as evidências científicas que outras nações se valeram para decidir sobre a liberação do produto e que provam que são menos prejudiciais do que o cigarro tradicional. Nosso governo diz que as evidências não são suficientes, mas isso não é resposta diante de pesquisas realizadas em nível global. Os novos produtos favorecem também o usuário final porque ele vai ter um produto regulamentado, com limites de nicotina e normas de produção. Vai ser uma oportunidade de novos negócios para o Brasil, gerando empregos, renda, opção para os produtores e retorno positivo para o governo pelo aumento da arrecadação de impostos. Atualmente, 100% dos DEFs consumidos no Brasil são ilegais porque as empresas, por determinação da Anvisa, não podem produzir e comercializar.
A proibição dos DEFs estabelecida em 2009 até fazia sentido na época porque ainda não haviam tantas evidências científicas. No entanto, hoje a Anvisa deveria olhar o que está acontecendo em nível global e os estudos atuais, como por exemplo da Inglaterra, onde um colégio de medicina provou que o produto é entre 90% e 95% mais seguro. A Anvisa realizou uma consulta pública e 57% da população brasileira se mostrou favorável à regulamentação, porém não foi feito nada com isso. Não faz sentido o que temos aí: o mercado ilegal fomentando o crime organizado e fazendo com que se perca empregos e impostos.
Algumas previsões de melhorias logísticas no Rio Grande do Sul são a criação de um porto em Arroio do Sal e a ampliação do aeroporto de Santa Cruz do Sul. São iniciativas que beneficiarão o setor do tabaco?
Valmor Thesing: O tabaco é o segundo produto mais exportado no Rio Grande do Sul, com volumes significativos, em torno de 30 mil contêineres por ano, e só temos um porto no Rio Grande do Sul, que é o de Rio Grande. Perdemos muito pelas dificuldades operacionais do Porto de Rio Grande. Além disso, as rotas de navios que vêm de Montevidéu e Buenos Aires não param na nossa costa se o vento não estiver favorável. Se a carga está lá e o navio não para, perdemos o timing e aumentam os custos, com pagamento de armazenagem e controle fitossanitário, e o produto não é entregue ao cliente no prazo. Outro problema é a logística rodoviária para o Porto de Rio Grande em função da precariedade das rodovias, caminhões quebram e há atraso nas entregas, entre outros problemas. Tivemos dois roubos de contêineres, talvez facilitados pela situação das estradas. Para nós, um segundo porto mais próximo, com melhor infraestrutura de rodovias é um sonho, não só do setor tabaco, mas de todos que exportam.
Sobre a ampliação do aeroporto, para nosso setor seria interessante se houvesse linha direta com São Paulo, pois nossos clientes, muitas vezes, deixam de vir em função da logística de passar por Porto Alegre. Mais clientes aqui significa também mais negócios e maior utilização de hotéis. Para nós, uma linha direta com o centro do País favoreceria também o envio das amostras aos clientes internacionais, pois enviamos em torno de 4 mil amostras por ano.
Como o aumento de impostos sobre cigarros de agosto de 2024 impacta no setor?
Valmor Thesing: Naturalmente, isso vai fomentar o aumento do mercado ilegal. Se não fosse o trabalho contínuo das lideranças do setor, o dano seria ainda maior. Para cada real que aumenta na carteira de cigarros, há crescimento no mercado ilegal. Isso é muito preocupante tanto para a cadeia produtiva como para o país. Vai significar menos produção, menos geração de renda e menos impostos. Ao aumentar o preço para tornar o produto legal inacessível, o governo está direcionando os consumidores para o produto de contrabando, aumentando a criminalidade, levando ao consumo de produtos sem controle sanitário e perda de impostos para o Brasil.