Fumo na lavoura e qualidade de vida em casa: produtores atribuem prosperidade ao cultivo de tabaco no RS

10 . JUL . 2012 Saiu na mídia

Sentados na varanda de casa, Milton, 44 anos, e Dalva de Brum, 47, aproveitam as tardes de sol na localidade de Linha Sítio, em Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, enquanto apreciam o tradicional chimarrão gaúcho. A rotina, segundo o casal, traduz a qualidade de vida conquistada graças ao trabalho na lavoura de tabaco da família, cuja liderança foi assumida por eles há cerca de 18 anos. Os 8,5 hectares de terras da propriedade têm espaço ainda para a produção de mandioca, batata e milho, além da criação de porcos, gado e galinhas para consumo próprio. Os Brum estão entre os 187 mil produtores integrados a indústrias fumageiras na região Sul do Brasil, que têm no fumo sua principal fonte de renda.

Conforme pesquisa da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), mesmo ocupando, em média 16% da área cultivada nas propriedades, o tabaco representou, em 2011, 56% dos ganhos de 742 mil pessoas no meio rural no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O restante é distribuído entre pastagens (23%), mata nativa (17,8%), milho (16%), mata reflorestada (11,4%), outras culturas (8%), açudes e áreas de descanso (5,8%) e feijão (2%).

A produção de fumo na região é baseada na agricultura familiar, com extensão média total de 16,4 hectares por propriedade. A mão de obra nas lavouras se concentra basicamente no trabalho manual de homens, mulheres, seus filhos e parentes próximos.

– Aqui nós não usamos máquinas. Criamos bois para tração, por opção nossa. Quando a produção é grande, nós contratamos um ou outro ajudante, mas geralmente fazemos tudo sozinhos, com ajuda dos familiares que têm propriedades perto. A gente faz uma troca de serviços. Eles nos ajudam aqui e nós os ajudamos lá também – explica Milton de Brum.

O manejo do tabaco é peculiar, em relação a outras culturas. Segundo os produtores, trata-se de uma prática completamente artesanal, desenvolvida em diversas etapas. As folhas são retiradas manualmente dos pés uma a uma, assim como a seleção por tipo e qualidade. Conforme explica Brum, a mão de obra culmina na cura, realizada em estufas, também chamadas de fornos. Somente depois de pré-beneficiado, o produto é encaminhado às indústrias, que fazem nova seleção e negociam a compra.

A cultura foi inserida na região pelos imigrantes alemães, que, a partir do século XIX, partiam da Europa em busca de prosperidade. De acordo com o livro Lavoura Dourada, de Nanete Neves, publicado com apoio do Sindicato Interestadual da Indústria de Tabaco (SindiTabaco), esses trabalhadores recebiam do governo brasileiro alguns lotes de terras, onde podiam estabelecer suas famílias e viver da agricultura e pecuária. Em meio à ascensão do uso do fumo mundo afora, viram na cultivar uma alternativa rentável de sustento. Com o passar do tempo, se manteve a característica de produção em pequenas áreas, utilizando técnicas artesanais de cultivo, como plantio e colheita sem a utilização de máquinas e tratores. A integração com as fumageiras, iniciada em 1918, no entanto, proporcionou ganho de tempo, dinheiro e qualidade aos fumicultores, por meio de orientação sobre novas técnicas e conhecimentos gerais acerca da diversificação na agricultura.

– O fumo é nossa principal atividade, mas a safra é uma só. Então, podemos aproveitar a terra para outras culturas. Adotamos o cultivo mínimo, no qual se mexe tão pouco for possível no solo. As práticas conservacionistas estruturam a terra, porque se pode aproveitar a adubação, por exemplo. Temos, então, o fumo, que gera o sustento, e milho, feijão, leite, peixes e outros produtos para nossa alimentação no dia a dia – diz.

O clima é preocupação constante. Isso porque, quanto mais úmido o solo, melhor se desenvolve a planta. Brum aponta, no entanto, que o tabaco oferece vantagem em relação a outras culturas, no que diz respeito às variações do tempo.

– Se chove muito, atrasa o plantio, mas, mesmo assim, quase sempre rende o suficiente para a venda na safra. Em caso de estiagem, o prejuízo é um pouco maior, porque se perde qualidade da folha e o preço cai. Só que dificilmente se vai ter perda total da produção, como aconteceu com o milho, esse ano – pontua.

Vida no campo

Mais do que gostar da lida na terra, o casal Brum ressalta os benefícios de viver na zona rural. Sem filhos, eles dividem a confortável casa na propriedade com a mãe de Dalva, Julieta Keller. A matriarca mostra orgulhosa a foto do casamento da filha, em 1994, e se diz satisfeita por ela ter seguido seus passos.

– Hoje em dia falta gente para trabalhar na roça, porque a maioria dos jovens vai para a cidade. Nossa família segue a tradição, sempre nesta mesma propriedade. É uma alegria – exclama.

Dalva concorda, enquanto apresenta, orgulhosa, a residência planejada e mobiliada de acordo com seu gosto e necessidade.

– Nós vivemos com conforto. Acordamos muito cedo para plantar, colher, tirar leite e vamos até a hora do almoço. Depois, podemos descansar, tomar o chimarrão, até dormir um pouco durante a tarde. Quando o sol baixa, retornamos à lavoura, para continuar o trabalho. Fazemos nosso próprio horário, eu posso cozinhar, fazer conservas, embutidos, doces. Na cidade, tem que trabalhar o dia todo, obedecer ao patrão e receber o salário que conseguir. Aqui, tudo é para nós e nossa família – complementa.

* A jornalista Mary Silva viajou ao Vale do Rio Pardo a convite do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco).

Fonte e foto: Mary Silva/Rural BR